quinta-feira, 20 de maio de 2010

Hum, Mahshi!

Um serão verdadeiramente Egípcio!
Apenas mulheres, colegas do escritório, em casa de uma delas, com a sua mãe e avó.

Mahshi foi o pretexto, e eu o "bobo" da Corte!

A sua casa é em Faysal, um bairro pobre, perto do escritório onde trabalhamos.
As estradas de certo e direito não têm nada, nem tão pouco são alcatrão. As ruas estão a apinhadas de gente, e de vendedores de tudo o que se posso imaginar. Nesta época a fruta é abundante, principalmente melancias, pêssegos e uvas.

O turista não vem aqui!

Mais para o interior, as ruas são bem estreitas, onde em algumas nem um carro passa. O lixo e a sujidade fazem parte.

Vi a outra face da cidade. A face que "eles" tentam esconder.
Era o que eu esperava.
Mas agora vi, tive a certeza.
E não vos consigo explicar.
Mas acho que é multiplicar, talvez por 4x, o caos que se vê no resto da cidade.

Entramos no prédio, reparo que a entrada e as escadas estão limpas.
No primeiro andar há uma porta aberta. Entramos, as mulheres cumprimentam-se com grande entusiasmo, muito barulho, muitos "handulilá", abraços, e mais beijos.
Voltamos a sair, ainda não era a casa da anfitriã, era só de uma tia, a sua é no andar de cima.

Sapatos à porta!

A casa, não só por comparação à rua, estava incrivelmente limpa e cheirosa.
Sou recebida como nunca tinha sido!!!
Abraços, como se me conhecessem há anos, beijos, e desejos que tenha uma vida de sucesso.
Fui tratada com toda a atenção, toda aquela comida tinha sida preparada, especialmente para mim.

As meninas dirigem-se ao quarto, não há homens em casa, toca a tirar os lenços.
Eram outras pessoas!

Lavar as mãos e mesa.
Os grafos foram colocados na mesa mais por cortesia do que propriamente para serem usados...
Mahshi, a iguaria da noite, é uma pasta de arroz que pode ser envolvida em folha de videira, ou para rechear beringelas, brancas ou roxas, ou pimentos.
É delicioso! Estava quentinho acabado de fazer!
O resto da refeição é uma sopa, não sei de quê, que levava massa pequena. (bem boa também!)
"Macarroni u bechamel" que eu normalmente chamo de Lazanha, mas em vez de ter a massa de lazanha tinha macarrão.
Frango frito, e como não podia faltar os pickles picantes, que eles adoram e eu nem os posso cheirar!

À bela moda egípcia, o meu prato foi atestado e só ficaram satisfeitas quando eu já estava à beira do
colapso.

Evito olhar para elas enquanto comem.
Ainda me faz muita confusão a maneira sôfrega como comem.
Tudo ao mesmo tempo, ainda não acabaram de mastigar o que têm na boca já estão a enfiar mais, falam ao mesmo tempo, servem-se com as mãos, comem com a mão direita.
Acabei de comer 15minutos depois delas (não podia deixar nada no prato).

Chá, POR FAVOR! Sem açúcar.
"Estas de dieta?!"
"Não, mas prefiro o chá sem açúcar."
Olho para as suas chávenas com 3colheres bem medidas de açúcar, percebo o seu espanto!
(mais tarde ao folhearem uma revista europeia babam-se a olhar para as manequins e actrizes, dizem que gostariam de ser como elas, e começam a perguntar-me como faço para ser magra e os produtos que uso no meu cabelo!)

A sala é grande e colorida (roxo e verde - bem pirosinho. Shiuu!), cheia de sofás e cadeirões.
Sentamos à conversa, e mostram-me fotos da familía.
Outra certeza é me concedida nessas imagens: o retrocesso da mentalidade destas pessoas.
Nas fotos vejo mulheres bonitas, muito bem arranjadas, com roupas bem mais modernas do que as que se vê hoje na rua, e é era raro aparecer alguém com Heguebe (o lenço na cabeça).
Acompanho a transformação destas mesmas mulheres ao longo das fotos. Já depois do casamento, e já com filhos aparecem o Heguebe, e roupas menos cuidadas.
Algumas delas hoje andam de Nekab (a burca, em que só se vê os olhos).

Deixamos as fotos e vamos para o quarto.
É hora de dançar.
Musica alta, batem palmas, fazem aquele gritos típicos e cantam.
Chegam mais mulheres: tias, primas, avós!
A festa está montada, e a animação é contagiante.
À vez, põe um lenço à volta das ancas, para realçar os movimentos, e vão para o centro dançar.
Chega a minha vez... Naba! Risota geral... =)
Toda a gente dança ao mesmo tempo, mesmo as gordinhas às obesas, as novas e as avós têm aquele movimento de anca que eu por mais que tentasse não chegava nem perto.

As fotos foram-me proibidas, pois todas estavam sem lenço... E mesmo que em Portugal ninguém as conheça, não podem ser vistas daquela forma.

Adorei ver como as famílias aqui são unidas, como se divertem juntas, como se fossem colegas de turma independentemente da idade.
Fiquei derretida com o carinho com que fui recebida. As avós adoptaram-me, queriam que eu fosse dormir a suas casas, e tive que prometer que voltava a ir lá jantar, e que viria ao Egipto pelo menos uma vez por ano, depois de voltar a Portugal.

Durante esta noite, milhares de questões se formaram na minha cabeça.
Pergunto não pergunto...
As mais softs coloquei. O resto provavelmente nunca conseguirei saber, nem compreender.



(desculpem a extensão do texto... ainda assim tive de me conter!)













6 comentários:

  1. Espectacular =) As coisas boas de conhecer uma realidade diferente. Acho que passaste por uma experiência que não há de haver assim tantas ocidentais a passar :) E essa comida tem um aspecto absolutamente delicioso. E gostei de perceber um pouco essa realidade tão diferente dentro da casa, que não estava nada à espera!

    Realmente ó Renata, que produtos usas no cabelo e o que comes? Terá a ver com o cabelo não andar sempre de um lenço e não comeres constantemente massas e um monte de molhos duvidosos? :)

    Beijinho!!!

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  2. Não Mariana, não tem nada a ver com isso! Nem com o facto de elas terem comido três vezes mais que eu...
    São uns comprimidos novos que estou a tomar.
    Depois eu dou-te o nome, mas não aqui, não posso divulgar assim o meu segredo =)

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  3. gostei muito deste teu relato, ó menina!

    fez-me lembrar algumas coisas que já vivi por aqui (mais uma vez, Argélia e Egipto, descubra as diferenças. lol), com a diferença de serem só homens.

    a oportunidade de ver de tão perto uma coisa tão diferente do que conhecemos, deve ser o mais interessante que isto de virmos para estes países tem. ver o que não se vê a olho nu, na rua. ver o que o turista não vê, ao entrar no mundo deles, literalmente (aqui não há esta questão, porque aqui pura e simplesmente não há turistas. lol). eu imagino o que ia na tua cabeça durante o jantar!

    acho que as nossas conversas "argélia vs egpito. semelhanças e diferenças" ainda vão dar pano para mangas! xD

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  4. Sem dúvida nenhuma que tema de conversa não nos vai faltar!
    Dia 3 de Julho vai haver festarola rija la em Aveiro, se quiseres aparecer liga para qnd estiveres a chegar =)

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  5. Festarola em aveiro???? e eu não sei de nada????
    não gostei de sabes destas coisas de festas estando eu por fora!!!! até porque pensava que nesse dia ia estar só para mim!!!!!:)

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  6. Adorei ler este post!!!!!FICOU UM POUQUINHO DE INVEJA por não ter estado lá, bem que gostaria de ter participado!!!!

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