quarta-feira, 2 de junho de 2010

Palestina e Jerusalém - em actualização


Sem dúvida esta é daquelas viagens que jamais irei esquecer, e que hei-de contar aos meus netos com o maior prazer!
Uma das melhores, e espero que seja apenas das primeiras, aventuras da minha vida.

A aventura começa logo na forma como a viagem surgiu:
Duas colegas da capoeira estavam a conversar, uma diz que tem um amigo na Palestina, e que gostava de ir visita-lo. A outra responde que também gostava de ir à Palestina e passar por Jerusalém.
“Vamos?!”
“Ok! Daqui a 15dias?”
“Sounds good!”
No dia seguinte, numa festa, vem a viagem à conversa, a Renata com a maior das latas pergunta: “Será que posso ir com vocês?!”
O espanto inicial converteu-se num sorriso: “Wow! Claro que podes!”

Uma mistura interessante: uma portuguesa, uma alemã e uma meia egípcia meia francesa, todas de idades diferentes (eu a mais nova =) ) e a trabalhar em áreas distintas.

A viagem foi agressiva!
Muito!
Autocarro do Cairo para Taba, fronteira com Israel, cerca de 6h; cerca de 4h30 a ser interrogada e revistada na fronteira; táxi para a estação de autocarros em Eilat; autocarro de Eilat para Jerusalem 5h; mais um autocarro até ao centro; e por fim um autocarro para Ramallah.
O regresso foi igual, excepto os problemas na fronteira.

Nunca me senti tão desconfortável! Dois militares a revistarem a minha mala, meia por meia, creme por creme, blocos de notas, máquina fotográfica, telemóveis… tudo!
Fomos interrogadas no mínimo por 4 pessoas diferentes.
No fim perdem os nossos cartões onde seria colocado e visto, e sem qualquer aviso prévio colocam o carimbo nos nossos passaportes! Conclusão: não posso entrar no Líbano, Síria, E.A.U. e quase todos os outros países do golfo… =/
Malesh!

Próxima fase da viagem: alojamento = mais uma aventura.
Ora pois, vamos lá experimentar o couch-surfing*!

Em Ramallah, eu e Magda fomos acolhidas por dois filipinos que nos trataram como duas princesas: um quarto com duas camas, toalhinhas para cada uma, cozinharam para nós ao pequeno-almoço e ao jantar e ainda nos levaram a passear a noite. E todas estas regalias e convites também se estenderam à Frida e ao seu amigo! Uns amores!





O nosso primeiro, e penúltimo, dia de visitas começou em Hebron (desculpem, não sei o nome em Português), uma das maiores cidades da Palestina, a sul de Ramallah, onde se diz que Adão e Eva viveram depois de serem exilados do paraíso e onde se encontra o túmulo colectivo de Abraão, Isac e Jacob e respectivas mulheres. Um local com bastante significado para as três grandes religiões monoteístas, e por isso ter sido alvo de graves conflitos, como por exemplo o massacre em 1994, quando as tropas israelitas mataram 20 muçulmanos que saiam da mesquita, depois da reza no último dia de Ramadão.

Hoje encontram-se 5 colónias de Israelitas nesta cidade. Onde viviam palestinianos que foram expulsos ou mortos, foram construídas excelentes casas para estas famílias extremistas judaicas, que são totalmente suportadas pelo governo e protegidas pelo exército – cerca de 4000 militares para 500 colonos.

Enquanto passeávamos na parte sobrevivente do mercado da cidade um jovem vendedor mete conversa connosco e disponibiliza-se para nos fazer uma pequena visita pelo mercado e a uma das colónias.
Este mercado era enorme antes da ocupação Israelita. Hoje em dia parte dele está fechado porque se encontra em H2 (parte da cidade que pertence à colónia), e uma das ruas separa o território de H1 e H2. Nessa rua vê-se uma rede amparar uma quantidade incrível de lixo. Explica-nos o nosso “guia” que nessa rua passam diariamente crianças palestinas que se deslocam para a escola que se encontra no limite de H2, e que são vítimas de insultos e “alvejadas” com lixo e água suja!
Nos telhados das casas vê-se militares armados, e bem armados, câmaras de vigilância, arame farpado nos limites da colónia e as casas em voltas destruídas ou queimadas.
Para entrar na colónia passamos por detector de metais e somos revistadas pelos militares.
Dentro da colónia parece que estamos noutra cidade. Tudo limpinho e arranjado, os heguebes dão lugar a pequenos lenços coloridos, os homens usam kippah e a franja dividida em dois rolinhos compridos, e os fatos camuflados fazem parte da paisagem!
Chega a ser chocante ver a naturalidade com que esta gente ali vive, porque quer, e são pagos e sustentados pelo estado, e acham que é seu dever ali estar e tomar as terras em volta, enquanto do outro lado vivem famílias que passam fome, que foram destruídas pela perda de um ou mais familiares e procuram no dia-a-dia força para enfrentar o dia seguinte que é sempre uma incerteza.












De volta ao mercado, passamos por uma lojinha de coisas feitas por uma associação dos direitos das mulheres Palestinianas. A dona, muito simpática convida-nos a entrar para tomar um chá. Certas das segundas intenções da Sra. Dissemos que íamos continuar o passeio e na volta parávamos aí.
A Sra. Não se esqueceu de nós!
“Venham meninas!”
“Ah… Sabe, estamos com um pouco de pressa, porque temos de apanhar o autocarro para Bethlehem, e ainda temos que almoçar porque estamos com fome…”
“Têm fome?! Venham comigo… Vão almoçar em minha csa, o almoço está pronto em 5min.”

Foi impossível recusar o convite!
A Sra. Deixa-nos em sua casa e volta para a loja.
Sentamo-nos nas almofadas no chão, em volta de uma pequena mesa quadrada, na companhia de toda a família: filhas, filhos, netos, marido, e sabe-se lá mais quem!
Frango assado e arroz oriental. Comemos todos da travessa, cada um com uma colher para o arroz, o frango à mão e os ossos ficam na mesa.
Estava divinal!
A meio da refeição aparecem mais duas estrangeiras: uma holandesa e uma América. Já não eram novas para a família, e explicam-nos que a Sra. da loja adora convidar os turistas para comer em sua casa.
Interessante!






Dirigimos para Norte, em direcção a Belém.
Ainda no autocarro um jovem se disponibiliza para nos mostrar a cidade!
Desta vez preferimos ir sozinhas.

Belém é a cidade onde se diz que nasceu Jesus Cristo, mais precisamente da Igreja da Natividade.
Esta pequena cidade é provavelmente a mais turística de toda a Palestina, e os grupos de Russos, Espanhóis e Brasileiros enchiam as ruas e a igreja.
Mesmo em frente à igreja, há uma mesquita.
É uma cidade muito simples, bonita, clean.
De regresso a Ramallah, vai-se conhecer a night. Para meu espanto há bares, e bem interessantes, embora praticamente só frequentados por estrangeiros que vivem na área.
Mesmo fora dos bares, é fácil encontrar álcool e vê-se muita mulher sem heguebe. Fiquei com a sensação de que aí não são tão conservadores como no Cairo.






Última cidade de visita nesta curta viagem: a famosa Jerusalém.
Se tivesse de escolher uma palavra para a descrever seria: miscelânea!
Dentro das muralhas da cidade antiga as cores, cheiros, comidas, géneros de lojas, religiões, nacionalidades, tudo se mistura com a maior das naturalidades. Incrível! Ver uma mesquita entre uma igreja católica e uma sinagoga, em frente a uma igreja ortodoxa. Ver as pessoas com os trajes religiosos característicos de cada uma no meio das turistas americanas de shortinho e tops de alças a falar alto.
O mercado estende-se pela maioria das ruas impedindo de ver as fachadas dos edifícios, mas imagino-os como todos os outras de pedra clara e desgasta pelo tempo.
Noto a engraçada “organização”, em que a seguinte sequência poderia ser perfeitamente uma rua deste mercado: Especiarias; mini-mercado; roupa; talho; electrodomésticos; restaurante; lenços e outros souvenirs; ourivesaria e para rematar uma loja de terços e estátuas religiosas. Dá que pensar…

Caminhámos pela Via Dolorosa, entrámos na igreja do Santo Sepulcro, fomos até ao Muro das Lamentações (onde supostamente não se podia tirar fotos, por ser Sabat, o dia sagrado dos judeus. Os Srs. Religiosos que me perdoem, mas não sabia se algum aí voltarei…)
A Cúpula da Rocha, ou Dom of the Rock, brilhava acima do muro, mas a visita não foi possível. Só é permitida a entrada a muçulmanos, para os outros, só se pode entrar no recinto, e apenas da parte da manha!









O nosso sofá foi fornecido por um meio Isrtaelita meio Americano. Esta experiência revelou-se mais interessante do que poderíamos imaginar inicialmente visto nos proporcionou um convívio com israelitas, que de outra forma seria impossível.
À noite passeamos pela zona nova da cidade, cheia de gente, bares, discotecas e restaurantes.
Se não fossem os abundantes trajes religiosos dos judeus, Jerusalém poderia ser confundida com qualquer cidade Europeia.






Gostava de divagar um pouco mais sobre as questões religiosas, políticas e sociais destas cidades, mas acho que já me estiquei demais no texto.
Talvez um dia volte a escrever um poste relacionado com o tema.


Resumindo:
Foi uma experiência incrível! Só queria ter tido mais tempo para ver mais coisas e estudar melhor os locais.

A quem tencionar viajar até estes lados:
            - no mínimo 2 dias para visitar a Palestina;
            - as viagens de autocarro são relativamente baratas;
            - Jerusalém é caro! Como uma cidade Europeia;
            - 2 a 3 dias para ver Jerusalém;
Na bagagem:
            - a habitual dose de paciência;
            - um belo sorriso e muito “inocência”
            - e o fundamental: mente aberta e respeito!


Façam as malas!



2 comentários:

  1. Hahahaha! Adorei este post! Um dos melhores até agora! :) Menina Renata, para quem teve um ataque de pânico quando soube que ia para o norte de África, agora mete-se em autocarros e a fazer couch-surfing numa região em estado de guerra permanente em que morrem frequentemente um turista ou dois, cheia fanáticos religiosos e em que se fala maioritariamente árabe, estou a ver uma grande evolução, sim senhora! :D Acho que estás pronta para a nossa volta ao Mundo! (e acho que eu também! Só tenho de tirar o meu ultimo ano de mestrado da frente lol) :)
    Fiquei mesmo contente ao ler este post. Viajar no seu sentido mais rootz, misturando-te com o povo, por terra, e à aventura! Qual Gonçalo Cadilhe! :P Gosto muito disso tudo! :) São essas viagens que nos mudam a vida e abrem horizontes, viagem a viagem.

    Aquele abraço, para a minha amiga que afinal se safa aí pelos médios-orientes! :D

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  2. Extraordinário!!! Não vejo outra palavra mais apropriada.Que bom conhecer outras realidades. São estas coisas que tornam a vida mais interessante, é pena que nem todas as pessoas tenham estas hipóteses!!! fico contente que tu tenhas essa forma de estar na vida e aproveites bem as oportunidades. Pelos teus olhos e as tuas fantásticas palavras também pode estar lá um pouco!!! beijos

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